domingo, 15 de julho de 2012

O CAOS


                                                                          Caos

Era feita de caos, daquele caos sagrado que funde tudo que é visceral e mundano, que perpassa toda a existência a procura de uma ordem que seja a da imperfeição organizada, a da sujeira límpida por ser honesta em sua podridão. E assim tudo era sagrado, do esgoto à hóstia. Dessa forma, ela também seria sagrada. O estampido que das batidas do seu coração saia de forma fragorosa retumbava a sua sacralidade de não saber se encontrar, de estar perdida dentro de si mesma, de não saber em qual recôndito, qual compartimento dentro de si se perdeu.

Estava esgotada, incerta de si mesma, perdida em um palavrório inesgotável que usava para traduzir sua indefinição em palavras. Absorta numa espécie de bruma, de delírio vertiginal que fazia que todo o preenchimento fosse vago, vazio em significado, sem importância.

Era o caos, e o caos era a regra, a ordem da incerteza rutilante que crispava a cavidade do que ela chamava de existência. Ela amava o caos. O caos a fazia ser, graças a ele ela era, se reconhecia como presença que o habita e reconhece. E por amar o caos amava a vida, tudo era sublimação, tudo era ardência pulsante que dizia do eterno.,do estertor que brota daquilo que ferve por dentro e que quer gritar de tão simples que é mas que se verte em algaravia quando dele se tentam apreender algo como agora acontece. É um ninho de palavras inertes, inócuas, rasas quando de trata de tocar o ardor do caos que lateja por dentro.

Ela era dessa espécie de gente, pedacinho de caos ambulante que vaga pela vida a procura de um abrigo, um espaçozinho pra se acomodar e se autoincomodar, de ser caos quietinha no seu canto, em paz. Ser caos e paz atados por laços de veias que são canais da explosão que nunca cessa em todos os corpos desde o início dos tempos mesmo depois de inertes, posto que estes no final sempre se transmutam para atuarem de maneiras diferentes das anteriores. Se sentia viva por ser caos, mesmo que não a amassem se sentia amada, pois era o amor do caos.

O caos é a ordem em si, sem ele não há troca não há gênese, fusão, ignição, atrito, fluxo, impulso, força, potência. Não há grito, não há voz, não há cópula, não há carne, nada nasce, nada cresce, pois dele tudo sai, tudo segue, tudo é. E é sagrado porque é. E Ela é.

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