quinta-feira, 3 de março de 2011

Mitágoras e a joaninha

  Mitágoras estava. Estava em algum lugar quando se deparou com uma joaninha. Naquele instante uma reveladora espécie de certeza  tomou conta do que possivelmente seria sua mente na forma de uma afirmação
         "TODO O COSMOS É PRODUTO DA IMAGINAÇÃO DESTA JOANINHA."
  Ele é completamente tomado por essa idéia que o  paralisou em um daqueles instantes que duram até menos de um segundo mas que contém a totalidade de todas as suas certezas abaladas neste microtinstante de tempo no qual perspectiva e a possibilidade dele ser produto da imaginação de um inseto que por ser portador de um aparato racional era o suposto criador de todas as coisas.
  Em seguida outro pensamento ainda mais desconcertante  que insistia em se afirmar como certeza em sua suposta mente se revelou:
   " Na verdade, TODO O COSMOS É SOMENTE A POSSIBILIDADE DA IMAGINAÇÃO DESSA JOANINHA."
 Ou seja.
 O cosmos inteiro é produto do que poderia ser a imaginação daquela joaninha se a ela fosse dada a possibilidade de pensar. Tudo então estava resumido à possibilidade do que poderia ser a imaginação dessa joaninha a respeito do cosmos. Tudo era a possibilidade do que poderia ser,se fosse.
  Então o cosmos é o que seria, se fosse possível ele ser se o que uma joaninha pudesse pensar como ele seria.
  O cosmos não é. Ele é o que não é. Ele existe existe no não-ser.
  Pois se a idéia de que ele poderia existir na mente de uma joaninha existe, (só que como de fato a joaninha não pensa, ele não existe), então ele existe no seu contrário, na possibilidade oposta do seu não-ser que é o ser. Pensou Mitágoras.
  " Eu existo apenas como possibilidade!? Existo apenas preso dentro dos limites dessa possibilidade!? Eu sou apenas uma possibilidade!?!?"
  E Mitágoras ficou atônito.
  Resolveu se deslocar do lugar onde se encontrava e caminhar, ver o mundo, mundo esse que era apenas uma possibilidade de imaginação de uma joaninha se a esta fosse possível conceber algum tipo de pensamento.
  E ele pára.
  "Bom, se nesta simples joaninha está contida a provável possibilidade da existência de tudo, é melhor eu tomar conta dela."  Retorna a onde estava acolhe a joaninha em suas mãos e a observa:
  E ao observá-la uma espécie de voz afirmativa ecoa em sua cabeça com uma sentença atordoante: " TODO O COSMOS, O UNIVERSO COM SUAS GALÁXIAS, SISTEMAS, ESTRELAS, CORPOS, PLANETAS ESTÃO CONTIDOS EM UM ÚNICO ELÉTRON DE UM ÁTOMO QUE SE ENCONTRA NA PINTINHA PRETA DA CARAPAÇA VERMELHA DA JOANINHA."

  Mitágoras se sente mal, se sente sufocado, apertado, abafado, hermético.

" Quer dizer que tudo se resume a isso!?"
  Se sente impotente e então ri. Ri de toda prepotência do ser humano, que se julga potente, deus, semi-deus quando não passa de uma possibilidade de existência contida numa fração de um elétron contido num átomo localizado numa pintinha da parte esquerda da carapaça vermelha de uma joaninha.

 "Coitados! Mal sabém! Huahuhauahuaha!"

  E chora, chora porque ele sabe.

 De repente ele se dá conta de que o universo é negro porque negra é a pinta da joaninha na qual está o elétron que contém toda a existência na sua possibilidade de ser.

  E Mitágoras se pergunta.

  "Mas como eu posso ser apenas uma possibilidade sea idéia de que eu sou mera possibilidade me vem através de bombásticas certezas?"

 E agora ele mão sabe. Não sabe por que ele é mera possibilidade e também não sabe se ele se saber como possibilidade é uma certeza.
 O poder ser ou não ser, sendo. Dentro da possibilidade de ser ou não ser, é a única possibilidade de existência de Mitágoras. Ou seja, uma existência que pode ser ou não ser, mas que é por já ser possível ser ou não ser. Sendo possibilidade.

"Estou preso! Preso!! Não tenho escolha!!! Não posso deixar de ser!! Pois na realidade eu não sou!!! Não posso deixar de existir pois eu nunca existi de fato!!! Sou apenas a possibilidade da minha existência pelo fato de eu não existir de fato!!!"

  " Estou perdido. Perdido no ser de meu não-ser! Existo na minha não-existência!"

"Socorro!!"

 E assim se desespera Mitágoras.

" Não posso existir! Nem deixar de Existir!"

E essa constatação faz com que um grande pesar invada tudo que ele pode sentir em um momento intenso e agudo de angústia.
 Mas a angústia passa. E Mitágoras se conforma, se conforma com sua condição de ser pelo fato de não ser.
 Estende seu dedo à joaninha e esta nele sobe. Sorri para seu insetinho-possibilidade-cósmica e respira fundo.
 " E de agora em diante, como agir?"

Pondera e pondera...
E mais uma vez não sabe.
 Mas então em um estalo ele se da conta que aquele momento com a joaninha não passava de mais um dos seus devaneios filosóficos que põe tudo à prova e que tentam abalar as estruturas do seu ser.
 E assim dá um piparote com o dedo na joaninha e esta alça voo. E tudo volta a ser como antes no bom e ordinário mundo de Mitágoras.
 Enquanto isso, numa calçada a joaninha caminha com suas patinhas pequenas e ligeiras o seu passo rápido e curto de sempre a examinar os milímetros do que Mitágoras se acostumara a chamar de mundo. Ela caminha em direção a grama, ao verde que pra ela nem é cor e sim algo que representa o que podemos chamar de fonte de manutenção da vida; só que na direção oposta um garotinha passa também frenética em seu passinho apressado e frenético em direção ao que pra ela se chama grama e da cor verde e sem perceber pisa e esmaga a pobre joaninha.

 ESCURIDÃO TOTAL

E no outro lado da cidade, os olhos de Mitágoras também escurecem.

Nada mais existe, nem mais poderia existir. Pois agora o próprio existir deixou de existir.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Mitágoras e o "riscar".

 Mitágoras estava caminhando no parque quando de repente sentiu um arranhão em suas costas; como se uma espécie de objeto pontiagudo  as tivesse riscando. Continuou a caminhar.
 Alguém o cumprimentou com um " Bom dia". E ao responder o " bom dia" com outro " bom dia" teve a sensação de que sua língua fora arranhada por uma agulha finíssima deixando um gostinho azedo na boca  como quando a língua se machuca.
 Esses arranhões deixavam dores ardidas e pungentes. O arranhão, uma espécie de "risco" em suas costas ardia, assim como o da sua língua também. Mas sangue não havia, havia somente ardor.
 Se sentia estranho, sem saber o que era aquilo e que significado poderia ter. Desespero não era a palavra. Estranhamento sim. Abismamento também.
 Ardia. Então ele começou a correr; a situação piorou. Sentiu mais arranhões o atingirem, agora um em cada batata da perna, nos calcanhares nos dedos dos pés, nas coxas, suas pernas completamente arranhadas. Diminuiu o rítmo e a intensidade  e o ardor diminuiram. Arfou e agulhas rasgaram seus pulmões.
Não dava para continuar, parou de correr. Examinou suas pernas, não havia arranhão algum, mas a dor era lancinante. Examinou a sola dos pés, a dor do corte era profunda, mas não havia corte.
 Desespero. Agora sim esta era a palavra. O rítmo da sua respiração aumentou, e seus pulmões ardiam. Suor começou a escorrer pela sua testa e cada gota de suor era como um espinho que rasgava seu rosto ao descer por ele.
  A cada parte do seu corpo a qual ele dirigia seu pensamento a sensação cortante era intensa e insuportável, seu corpo inteiro parecia estar sendo arranhado, cortado, circunscrito em uma espécie de região limítrofe que se delimitava através da dor.
  Com muito esforço conseguiu caminhar até em casa, mesmo que com a cada cada passo dado suas pernas sofressem arranhões os quais ele realmente sentia mas não os via.
  Entrou em casa, e com rapidez bateu a porta. Mas algo diferente aconteceu quando ele olhou para a porta e nela fixou o seu olhar; o olhar em cada detalhe em cada traço da madeira, nas imperfeições, nos contornos da maçaneta e ao fazer isso começou a ouvir sons de pequenos riscos sendo feitos na porta que se intensificavam e ficavam  cada vez mais altos a medida que ele fixava seu olhar nestes detalhes.
 E começou a olhar ao seu redor. Olhar as paredes, a mesa, as cadeiras, as rachaduras nas paredes, o carcomido do tampo da mesa, as pequenas falhas nos talheres, a fenda no telhado que deixava escapar a luz do sol e a água da chuva e tudo isso tomou proporções gigantescas pois o barulho de risco rabisco se intensificou em sons estridentes e ensurdecedores.
  Ao se olhar no espelho sentiu  como se todos os contornos do seu rosto estivessem sendo talhados em suas extremidades por algo pontiagudo que de certa forma ao mesmo tempo que parecia o deformar estava lhe dando vida.
 Tudo ardia, tudo rangia, rachava, rasgava, se cortava. Nada escapava, tudo o que pudesse ser percebido pelo seu olhar e apreendido por sua mente sofria o "rasgo", o "riscado" do seu pensamento.
 E Mitágoras percebeu que o único lugar que o risco não riscava e que não ardia; era sua mente. Era como se esta fosse imune a ele, permanecendo intacta.
 Mas por quê?
 Parou e pensou, pensou em meio a todo ardor e ranhuras dos quais era vitimado. E percebeu que sua mente não era riscada. POIS ERA ELA QUEM RISCAVA, era ela quem provocava os arranhões e consequentemente o ardor que tomava conta de todo o seu ser e do ambiente ao seu redor pois tudo partia dela.
 E se perguntou novamente "mas com o que ela riscava?" " que instrumento ela utilizava para riscar e arranhar seu ser e os objetos ao seu redor?" "qual seu objeto cortante, que talha, que circunscreve?".
 Ficou parado, imóvel, pensando em qual seria esse objeto. E de repente ficou pasmo, atônito, boquiaberto. Se sentiu um idiota; era só olhar para a sua mão e lá estava resposta: ela segurava um lápis. E com este ela escrevia freneticamente.
 Se dera conta de que todo esse tempo ele não havia saído do lugar, tinha estado o tempo todo sentado  à mesa com um lápis na mão escrevendo no papel tudo o que  se passava por sua cabeça, o conteúdo o qual a partir do momento que era lançado no papel em forma de escrita, risco, rabisco o fazia ter a nítida percepção de experiência real  daquilo de que da ponta do lápis saía.
 Na verdade, Mitágoras escrevia a si mesmo. se dizia, se criava, se inventava. Era contador de si mesmo, escritor de seu destino.
  A ponta do lápis era o condão pelo qual tudo acontecia e se fazia real, o que era escrito era vivenciado e escrito ao mesmo tempo. Era senhor de si sem sabê-lo; autoridade do próprio destino sem consciência desta. 
 Agente e paciente de todo o seu ser. Mitágoras era o próprio lápis.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

O escuro e o claro de Mitágoras.

  Estava escuro ,luz apagada. Fechara os olhos deitado na cama para dormir.
Quando fechou os olhos, ao invés de continuar escuro, tudo ficou claro, uma claridade intensa como se uma espécie de holofote tivesse sido aceso.
  Abriu os olhos novamente. Novamente escuridão. Fechou-os. Claridade.
  Queria dormir, tinha sono. Mas quando fechava os olhos estava demasiado claro, impedindo impedindo qualquer possibilidade de um possível sono. Serotonina completamente inibida em seu organismo. Deveria então dormir de olhos abertos, já que assim tudo ficaria escuro e a liberação de sua serotonina seria liberada?
  Olhos abertos. É como se estivesse dormindo no escuro, mas de olhos abertos. Olhos fechados, era como se estivesse acordado, mas de olhos fechados.
  Assim Mitágoras permaneceu por toda a noite. Abrindo os olhos para dormir e os fechando para acordar.

Lhe ocorreu um estalo:
" E se eu acender a luz? Será que a  ordem das coisas se reestabelecerá?"

Levanta  e acende a luz. Mas quando aciona o interruptor percebe que a luz estava acesa e que neste momento ele a tinha apagado.

" Como pode ser?! Então todo este tempo a luz estivera acesa?? Mesmo quando eu abria os olhos e via tudo escuro e quando os fechava e tudo se clareava?"

 Confusão e dúvida tomam conta de Mitágoras.
 Mitágoras agora não sabia se a luz de fato estava acesa ou apagada, e pior, se estava de olhos abertos ou fechados Se ao pensar que os abria os fechava ou que ao fechá-los na verdade os abria.
 Claro, escuro, fechado, aberto. Tudo se confundia e se fundia. Agora não sabia se a vida que tinha quando se julgava de olhos abertos e acordado era real ou se era um sonho por estar dormindo crendo estar acordado ou se os sonhos que tinha quando estava de olhos fechados estando supostamente dormindo eram a realidade que se passava por sonho por acreditar que dormindo estava.
 Ordem invertida. Estava acordado crendo estar dormindo e dormia acreditando estar acordado. Não sabia se ao abrir os olhos os fechava e se quando os fechava estava a abri-los.
 Piscava inúmeras vezes na esperança de que na incessante repetição do piscar tudo voltasse a ordem  normal das coisas.

" Mas e se na verdade ordem alguma jamais tivesse existido? Se a desordem fosse a unica ordem? Se sonho e realidade não passassem de meras perspectivas? E fossem na verdade um emaranhado sem lógica mascarados em supostas lógicas forjadas por supostas subjetividades?"
" Claro, escuro. Quem determinou qual é qual? Já que não passam de conceitos?"

  Não sabe mais se está no claro ou no escuro, no sonho ou na realidade, de olhos abertos ou fechados.
  Pisca com mais velocidade ainda, tudo são flashes muitos rápidos como os de um projetor de filmes no qual o intervalo de troca de um quadro para outro é quase imperceptível e tem-se a ideia de uma imagem contínua que na sua aparente continuidade possui algo de descontínuo imperceptível: o intervalo entre um quadro e outro.

   A velocidade das piscadas aumenta a ponto de Mitágoras não sentir mais que possui pálpebras que piscam, lhe dando a sensação de que seus olhos estão abertos ininterrupatmente por não mais perceber as piscadelas. Mas ao mesmo tempo e na mesma proporção o tempo que os seus olhos permanecem fechados pela rapidez das piscadas é o mesmo do qual eles permanecem abertos. Embora tendo a sensação de que estão abertos continuamente, eles também permanecem fechados. O fechar se funde no abrir. O escuro se funde no claro. O sonho na realidade. E conceitos não existem mais.

  Mitágoras pára de piscar.

  A imagem se torna estática e extática.
  Ele se sente estático e extático.
  Tudo ao mesmo tempo.

  Estático por não saber se está claro ou escuro , aberto ou fechado e se é sonho ou realidade.
  Extático pelo êxtase do inesperado que o invade com toda força da inação perante o absurdo inexplicável que se apresenta na sua experiência de ser.

  E você a que por algum acaso está a ler estas palavras. Tem certeza mesmo que as está lendo? Que está acordado e consciente que as lê? Que seus olhos estão abertos e as lendo e não fechados a imaginá-las? Que esta tela na verdade esta em branco e que não há caracter algum nela que possa ser lido? Que a vida que você vive é de fato sua vida ou algum tipo de idílio pelo qual você passa quando está de olhos fechados? Será que agora mesmo neste exato momento você realmente vivencia este momento ou apenas julga vivencia-lo? Será que o ser que você é é realmente o ser que você é de fato e se de fato e se de fato você é algum ser que é?
  Afinal de contas, tudo não passa de conceitos. E conceitos sempre foram e sempre serão forjados.
  Quem os determina?
  Tudo é incerteza  e disso Mitágoras tem certeza.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Mais Mitágoras

  E Mitágoras não era mais quem era, até porque ele não era alguém que era. Ele parou e pensou como seria se ele fosse alguém que fosse alguém. Mas este pensamento para ele era inconcebível de tal forma que ele ao tentar pensar sobre isso; que ele se tornava alguém que não era e que pensava como seria se fosse. E assim se dava o seu ser. Em verdadeiros “nós” de possibilidades de ser que apenas existiam através da hipótese do que possivelmente poderia ser se pudesse ser.

Afogado em seus nós, este ser que não era alguém que era, mas que era alguém que pensava como seria se fosse, continuava a pensar o seu possível ser e assim criou seu mundo ao seu redor, dentro de si se este Si fosse e então tudo era na sua possibilidade de poder ser.
O mundo de Mitágora e o próprio Mitágoras eram um só; uma só pessoa que era pessoa e mundo inteiro ao mesmo tempo. Ou seja, Mitágoras era ele e o mundo que ele criava sua alteridade era diversa e singular ao mesmo tempo. Qualquer objeto, pessoa, coisa etc eram a única coisa existente e ao mesmo tempo a parte de um todo de vários. Mitágoras era única coisa que exstia e ao mesmo tempo apenas umas das milhares que eram. E assim em círculos seu ser era. Existindo em vários e apenas sendo um. Sempre um e todos. Em incontáveis letras que são sempre as mesmas e que formam palavras que são escritas e lidas a todo tempo e sempre, sempre sendo as mesmas letras e palavras mas nunca significando as mesmas coisas.

Mitágoras e Só.

    Mitágoras, este é meu nome. Mas o que vem a ser um nome? Algo que por meio de de símbolos chamados letras que combinados formam morfemas e fonemas que por sua vez formam uma palavra que representa um conceito de algo através de um código chamado de linguagem ?E este nome vem então a ser uma representação de algo ou alguém por meio de palavras? Certamente que sim. Se assim for-- então é o meu nome Mitágoras .
Sim, Mitágoras é meu nome. Mas e quanto a mim? Este ser que se chama Mitagóras o que sou? Já que Mitagoras é MEU nome e este portanto pertence a MIM; o que é então este MIM que afirma que o nome é MEU, que possui este nome e que afirma ser seu este nome? Bem, a esta pergunta não tenho resposta e de fato não sei se algum dia terei. Portanto me calo, calar não, pois não estou a falar e sim a escrever, ou ser escrito não sei ao certo, só sei que digo( escrevo) ou afirmo algo a MEU respeito ou é dito(escrito) algo ao MEU respeito, pois não sei bem se sou EU que estou a dizer(escrever) algo a meu respeito ou se apenas coisas estão sendo ditas(escritas) ao meu respeito.
A dúvida me toma, pois não sei se sou algo que possa possuir um nome, se sou eu que digo(escrevo)estas coisas a meu respeito ou outro alguém as diz(escreve). SE é outro alguém as diz( escreve); como se explica o fato de EU usar freqüentemente pronomes pessoais como EU, MEU, MIM? SE de fato não sei nem realmente sou algo, muito menos um eu? Se EU não sou um EU como posso ao mesmo tempo referir- me A mim mesmo sempre de modo tão pessoal? Como se realmente fosse Eu que estou a escrever tais coisas? Os pensamento se embaralham. Preciso de pausa para pensar.
Pausa.


Os pensamentos não estão claros. Pensamentos? E por acaso eu os tenho? OU simplesmente alguém está aqui a registrar por meio do código da linguagem escrita que os tenho?Se a linguagem é escrita então eu deva somente existir no âmbito da escrita e não do fenômeno real, concreto, palpável. Mas se concebo a idéia do âmbito de um universo da escrito e outro de fenomemos pertencentes a escala do real palpável e concreto. Certamente é porque no mínimo se alguém esta a escrever sobre mim e sou fruto da imaginação deste, este outro que me escreve pertence a este âmbito do real, do palpável e do concreto e eu por conseguinte existo em sua mente de forma abstrata em um algo chamado de cérebro feito de terminações nervosas, sinapses, sangue, carne; entoa de certa forma tenho algo também de real, palpável e concreto. Mas e então?Ainda não sei.

Pouco importa se sou eu que estou a escrever isto ou se é alguém que escreve. O tédio me toma ou quem estar a escrever é tomado de tédio, já não o sei mais. De maneira que não vejo mais utilidade nem propósito em me dizer (escrever) ou que alguém me diga(escreva) por meio destas palavras. Sei que me chamo Mitágoras e pouco importa agora o que este algo indizível que se chama Mitágoras SÃO ou o que ou quem de fato é. Pois ao dizer que SEU nome é Mitágoras ele (EU ou OUTRO) já se limita(m) já se circunscreve(m) no limite de um algo que passa a ser um tal que se chama ou é chamado de Mitágoras e isto de certa forma encerra uma possível jornada que seria uma busca pelo entendimento, se possível este, o que acredito não o ser, a respeito deste ser, algo, amorfo, atemporal, fora de espaço ou qualquer relatividade que se auto afirma ou é afirmado por meio de palavras que se perdem em si mesmas por se reconhecerem incapazes e pouco precisas de alguma definição sobre o abismamento da experiência do que é ser algo, alguém ou qualquer coisa. Porque ao se utilizar palavras, a vertigem já deixa de ser, de ser neblina, de ser abismo, mesmo que o abismo se mostre por meio destas, este já deixou de ser abismo pois foi chamado de abismo e abismo de fato não tem nome, ele apenas é,é abismo no seu em si; prescindindo que se use qualquer palavra pra lhe dar nome ou usar qualquer código para delimitá-lo em conceitos , seja de linguagem, imagem ou que for . Vê? Ela, a linguagem já se perdeu em seu próprio abismo se estendendo em intermináveis palavras pra explicar o que é incapaz de explicar por ser limitada em sua natureza.
Entao basta que se diga Mitágoras, e qualquer outra tentativa de explicação do que venha a ser isto ou este ou EU; é e sempre será em vão.
Pois o ser não existe, ele apenas é.
Assim como a verdade também não existe, é apenas invenção. É louvável que a busquemos, mas há um grande perigo em acreditarmos que a possuímos.

eu Mitágoras e só.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

NASCIMENTO E MORTE DE MITÁGORAS

   Há um grão de areia, entre milhares de grão de areia, esse grão de areia sacode, se agita, incha e eclode.
Dele surge um homem, ele está nu. Ele saiu de dentro deste grão; mas não sabe o que signfica sair, nem o que é um grão e nem por que dele saiu.

Ele se levanta não fazendo a menor ideia do porque se levanta e o que seja o ato de levantar-se. Ele simplesmente se levanta.

Ele olha ao redor, sem saber que olha e muito menos o que é o ato de olhar e mesmo até que tem um olho que olha.

Ele vê coisas, pessoas, árvores, pedras, pássaros mas não sabe que aquilo são coisas, pessoas, árvores, pedras e pássaros. Digo mais, ele não sabe nem que ele é um ser e que estas coisas que ele está a ver são outros seres outras cosia que não ele. A alteridade pra ele não existe. Nem que ele existe ele ainda sabe.

Ele não sabe nem que não sabe, que existe nem o que seja existir e tampouco o que seja uma existência. 

Ele simplesmente está, está ali parado, sem saber o que é estar e o que seja estar parado.

Ele caminha, sem a mínima ideia do que seja caminhar, de que ele caminha e de que seja um ser que caminha.

As pessoas ao se depararem com aquele homem, que eclodiu de um grão de areia__ alheio a tudo inclusive ao seja ser alheio a algo__ se assustam se assustam com alguém que não sabe que é alguém, que no sabe o que é ser alguém e o que é ser alguém que assusta e o que seja assustar.

Ele é uma espécie de "nada", nada que tomou forma humana, que se personificou inconscientemente porque consciência alguma tinha posto que era um nada inconscientemente personificado em sua ignorância de ser nada e posto que era nada e o nada ignora o nada que é.

As pessoa se apavoram ao verem este nada personificado com o véu do humano, com esse nada que se fez humano e que delas se aproxima.

Elas gritam:

__Para trás!!
__Para Trás!!

Ele as ouve. Ouvir? Definitivamente não! As ondas sonoras captadas pelo seu suposto aparelho auditivo que obviamente ele não sabia possuir, não passavam de sons que por este aparelho eram convertidos em algo que ele não sabia que eram sons e que os estava ouvir. Ou Seja não sabia que tinha um ouvido, que ouvia e que estava ouvindo algo que se chamavam sons que produziam palavras as quais totalmente desconheceria.

Palavras que significam algo. Significar? Algo? "Algo" não existia para ele, não tinha noção de que algo existia  de que ele existia para perceber que algo existia.
Ele não sabe que está em um lugar, não sabe que ele é "um" e que o ambiente ao seu redor é "outro" outra cosia que não ele. Sem consciência de si próprio; ele está e é sem estar e nem ser.

E novamente os outros seres que sabem que são algo gritam:

__Para trás!!

Ele continua a caminhar, sem saber que caminha, nem o que seja caminhar, nem que alguém lhe grita; pois não sabe o que é alguém e o que seja gritar.

Outro ser grita novamente:
__Vou atirar!
__Vou atirar!

E ele continua, sem saber o que é continuar, sem saber que alguém grita que vai atirar. Pois não sabe o que é alguém, o que é gritar e muito menos o que venha a ser atirar.

O ALGUÉM ATIRA.

O tiro atinge sua barriga, a qual ele não sabe possuir e o que seja uma barriga. Ele sente o impacto, mas sem saber que sente e o que seja sentir. Olha para o ferimento causado pela bala, sem saber que aquilo é um ferimento que foi causado por uma bala e o que seja uma bala e sem saber que olha para o ferimento pois não sabe que olha nem o que é o ato de olhar, apesar de o fazer. Escorre sangue, sangue que ele não sabe que possui, nem o que vem a ser sangue o que venha a ser alguém que tem sangue e que sangra, que o sangue é vermelho, não sabe que vermelho é cor_ vocabulário em sua mente auto ignorada não existe__ existir é palavra que para ele não existe pois não sabe que o existir existe e que ele existe no existir do que vem a ser uma existência.

 Ele toca o sangue com seus dedos, que não sabe que são dedos, nem que tocam, nem o que seja tocar. Seus dedos ficam melados com seu sangue o qual ele não sabe que é seu , sem saber que tem dedos que tocam seu sangue por não saber que é alguém que sangra e que tem dedos pra tocar este sangue, mas mesmo assim ele o toca sem saber que toca, sem saber que é alguém que toca o sangue que tem. Que seus dedos são um parte de seu corpo o qual não tem consciência de possuí-lo pois não se distingue das demais coisas e seres ao seu redor.

 Não sabe que é alguém que está em algum lugar com um tiro na barriga que sangra. Mas é e está.

Ele sente dor, sente mas não sabe o que é dor e nem que é ele que sente a dor pois não sabe que existe pra que possa sentir dor e que a sente. Mas ele a sente, e ela dói, a dor que ele que não sabe que é dor e que dói e que ele não sabe  que dói, dói.

E ele grita:

__Ahhhhhhhhhh!!!!

De dor.

Mas não sabe que gritou, nem o que é gritar, nem que foi de dor por não saber o que seja dor e que a sentia.

Ele então cai no chão; sem saber que caia, nem o que seria cair nem o que seja um chão onde se cai nem o que seja alguém que cai no chão. Mas caiu.

O ar começa a lhe faltar, muito embora não saiba o que seja faltar o que seja ar, que ele seja alguém que precise de ar para respirar, que ele é um ser que respira e o que seja respirar para que o ar o falte quando não consegue realizar o ato o qual  ignora  ser capaz de fazer que é o de respirar.

E então ele arfa, estertora. Totalmente alheio a seu ser, seu corpo, do alguém que não é ninguém que ele é que arfa e estertora sem saber que isso o faz.

 Seus olhos se arregalam, ficam fixos, sem vida. Olhos não sabidos, arregalados por quem nem sabia que tinha olhos para arregalar e sem vida, uma vida que nem  sabia que era vida.

Seu coração pára. Coração desconhecido por quem o fazia bater e muito menos saberia que este tinha parado e o que seria parar e o adviria desta parada. A morte.

Morreu. Sem saber que morreu, que existiu para depois morrer, que morreu porque estava vivo mas não sabia que vivo estava e que quem está vivo morre e que ele estava vivo e por isso morreu.

Foi sem saber que era, mesmo sendo.
Existiu sem saber que existia, mesmo existindo.
Estava sem saber que  estava, mesmo estando.
Sentiu dor sem saber que  sentia, mesmo sentindo.
Gritou sem saber que  gritava, mesmo gritando.
Morreu sem saber que morria, mesmo morrendo.