terça-feira, 18 de janeiro de 2011

O escuro e o claro de Mitágoras.

  Estava escuro ,luz apagada. Fechara os olhos deitado na cama para dormir.
Quando fechou os olhos, ao invés de continuar escuro, tudo ficou claro, uma claridade intensa como se uma espécie de holofote tivesse sido aceso.
  Abriu os olhos novamente. Novamente escuridão. Fechou-os. Claridade.
  Queria dormir, tinha sono. Mas quando fechava os olhos estava demasiado claro, impedindo impedindo qualquer possibilidade de um possível sono. Serotonina completamente inibida em seu organismo. Deveria então dormir de olhos abertos, já que assim tudo ficaria escuro e a liberação de sua serotonina seria liberada?
  Olhos abertos. É como se estivesse dormindo no escuro, mas de olhos abertos. Olhos fechados, era como se estivesse acordado, mas de olhos fechados.
  Assim Mitágoras permaneceu por toda a noite. Abrindo os olhos para dormir e os fechando para acordar.

Lhe ocorreu um estalo:
" E se eu acender a luz? Será que a  ordem das coisas se reestabelecerá?"

Levanta  e acende a luz. Mas quando aciona o interruptor percebe que a luz estava acesa e que neste momento ele a tinha apagado.

" Como pode ser?! Então todo este tempo a luz estivera acesa?? Mesmo quando eu abria os olhos e via tudo escuro e quando os fechava e tudo se clareava?"

 Confusão e dúvida tomam conta de Mitágoras.
 Mitágoras agora não sabia se a luz de fato estava acesa ou apagada, e pior, se estava de olhos abertos ou fechados Se ao pensar que os abria os fechava ou que ao fechá-los na verdade os abria.
 Claro, escuro, fechado, aberto. Tudo se confundia e se fundia. Agora não sabia se a vida que tinha quando se julgava de olhos abertos e acordado era real ou se era um sonho por estar dormindo crendo estar acordado ou se os sonhos que tinha quando estava de olhos fechados estando supostamente dormindo eram a realidade que se passava por sonho por acreditar que dormindo estava.
 Ordem invertida. Estava acordado crendo estar dormindo e dormia acreditando estar acordado. Não sabia se ao abrir os olhos os fechava e se quando os fechava estava a abri-los.
 Piscava inúmeras vezes na esperança de que na incessante repetição do piscar tudo voltasse a ordem  normal das coisas.

" Mas e se na verdade ordem alguma jamais tivesse existido? Se a desordem fosse a unica ordem? Se sonho e realidade não passassem de meras perspectivas? E fossem na verdade um emaranhado sem lógica mascarados em supostas lógicas forjadas por supostas subjetividades?"
" Claro, escuro. Quem determinou qual é qual? Já que não passam de conceitos?"

  Não sabe mais se está no claro ou no escuro, no sonho ou na realidade, de olhos abertos ou fechados.
  Pisca com mais velocidade ainda, tudo são flashes muitos rápidos como os de um projetor de filmes no qual o intervalo de troca de um quadro para outro é quase imperceptível e tem-se a ideia de uma imagem contínua que na sua aparente continuidade possui algo de descontínuo imperceptível: o intervalo entre um quadro e outro.

   A velocidade das piscadas aumenta a ponto de Mitágoras não sentir mais que possui pálpebras que piscam, lhe dando a sensação de que seus olhos estão abertos ininterrupatmente por não mais perceber as piscadelas. Mas ao mesmo tempo e na mesma proporção o tempo que os seus olhos permanecem fechados pela rapidez das piscadas é o mesmo do qual eles permanecem abertos. Embora tendo a sensação de que estão abertos continuamente, eles também permanecem fechados. O fechar se funde no abrir. O escuro se funde no claro. O sonho na realidade. E conceitos não existem mais.

  Mitágoras pára de piscar.

  A imagem se torna estática e extática.
  Ele se sente estático e extático.
  Tudo ao mesmo tempo.

  Estático por não saber se está claro ou escuro , aberto ou fechado e se é sonho ou realidade.
  Extático pelo êxtase do inesperado que o invade com toda força da inação perante o absurdo inexplicável que se apresenta na sua experiência de ser.

  E você a que por algum acaso está a ler estas palavras. Tem certeza mesmo que as está lendo? Que está acordado e consciente que as lê? Que seus olhos estão abertos e as lendo e não fechados a imaginá-las? Que esta tela na verdade esta em branco e que não há caracter algum nela que possa ser lido? Que a vida que você vive é de fato sua vida ou algum tipo de idílio pelo qual você passa quando está de olhos fechados? Será que agora mesmo neste exato momento você realmente vivencia este momento ou apenas julga vivencia-lo? Será que o ser que você é é realmente o ser que você é de fato e se de fato e se de fato você é algum ser que é?
  Afinal de contas, tudo não passa de conceitos. E conceitos sempre foram e sempre serão forjados.
  Quem os determina?
  Tudo é incerteza  e disso Mitágoras tem certeza.

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