quinta-feira, 26 de julho de 2012

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Ah, não sei nada! Estou repleto de insipiência. Repleto de tudo aquilo que não preenche espaço algum, que nada diz por nada ter a dizer por nada saber. Estou repleto daquela falta que inunda a mente de todos os imbecis, doutores da falta de tato, de gosto, de palato que pronuncie algo, sou daqueles que querem o mar; infindável ir e vir de ondas espasmódicas a se espraiar nas vagas do que se chama de pensamento. Tenho o tino perdido, embiocado não sei onde que nunca mais o encontrei, e sabe se lá em que biboca ai dentro ele se enfiou. Perdido no que poderia ser uma seara, daquelas que são feitas de ideias de plantas férteis, que resplandecem verdejantes numa espécie de crepúsculo existencial com folhas verdes a farfalhar se despedindo do dia. Emaranhado em borbotoes de palavras que se misturam erraticamente por toda parte do que não se sabe o nome pois estas não se oferecerem para forma dar a este nome que não se diz, este impulso anonimo que ferve cheio de verve e flui que nem ressaca oceânica de empuxos e repuxos a querer transbordar os rincões daquilo que se chama de eu.

Ah, é um não-sei-que, é um não saber que se sabe que não se sabe, é um indizível percuciente, inenarrável que se destampa a ribombar em um fragor ensurdecedor que não se faz ouvir porque não é som , de algo que diz por não ter dito, é esse cheio vazio a retumbar em todos os recônditos, em todos os poros do que se é pra depois vir a ser aquilo que a palavra chama de nada e a gente chama de..............

terça-feira, 24 de julho de 2012

ERRO DATILOGRÁFICO


                                                    
Trabalhava em uma repartição, todos os dias sentava-se a postos a redigir os mais variados documentos; relatórios, protocolos, memorandos, ofícios, enfim, aquela parafernália que compõe toda confluência burocrática característica desses ambientes. Um único detalhe o destacava do restante  fazendo que fosse visto com um certo estranhamento por parte dos seus companheiros de profissão: ao invés do computador ele se utilizava de uma máquina de escrever.

O barulho intenso e constante provocado pelo bater das teclas no papel repercutia por todo o ambiente causando irritação em todos os presentes que sempre lhe indagavam o porquê da insistência no uso de instrumento tão arcaico, barulhento e muito pouco pratico aos quais ele redarguia “ é mais proveitoso”.

O curioso é que a cada erro cometido, ao invés fazer alguma emenda, voltar a datilografar em outra folha, ou encobrir o erro com líquido corretivo; ele arrancava a pequena letrinha inconveniente que aparecera no lugar errado e colocava em um pequeno caneco que ficava a seu lado. Assim fazia toda vez que algo era digitado de maneira indevida; erros de ortografia, um plural indevido, uma crase mal colocada, todos iam parar no caneco o qual no fim do dia terminava cheio.

Ao final do dia repetia um curioso ritual que deixava todos curiosos a olharem meso que de soslaio para sua execução: pegava a caneca repleta dos pedacinhos de papel produto de seus erros, colocava um pouco de água, misturava um pouco e tomava tudo de uma vez só e após aquele lauto hausto, prorrompia proverbialmente:
“ Que erros deliciosos!.” E ia-se.

segunda-feira, 23 de julho de 2012

OS SAPATOS



Deparou-se na vitrine com o sapato mais encantador que poderia ter visto na vida. Ficou fascinada, hipnotizada pelo brilho das pequenas pedrinhas brilhantes que adornavam os contornos daquele sapato de bico fino muito alto e de um vermelho candente.
“Preciso tê-los!” . Pensou ela decidida.
__Lamento senhora, infelizmente este único par restante na loja é de uma numeração  menor do que a que a sra calça.
Disse o vendedor após tentar enfiar em seus pés os tão desejados sapatos. Mesmo que antes este tenha perguntado o seu número e informado que não dispunha da numeração referida e esta numa atitude obsedante insistiu para que os experimentasse.

__Não tem problema! Retrucou com tenacidade.
__Ficarei com eles mesmo assim! Concluiu.

E levou os sapatos.

Ao chegar em casa, correu para a cozinha pegou a faca mais afiada que tinha e a custa de muita dor e esforço conseguiu cortar os cinco dedos e cada pé e ligeiramente calçou os sapatos.

__Ah...Agora sim! Eu não disse que eles iam me servir? Nossa, cabem como luvas em meus pés.
E contemplava-se no espelho, com aquele belo par de sapatos vermelho incandesceste ornado com pedrinhas brilhantes, enquanto que pelos cortes nos dedos o sangue jorrava incessantemente. Mas ela não se importava, afinal de contas se tratavam de sapatos vermelhos e ninguém iria notar o vermelho do sangue.

domingo, 22 de julho de 2012

O TEMPO


                                                                    

Ao se olhar no espelho sentiu o toque de algo que se passa ao notar as linhas em seu rosto, como sulcos que se fundem no solo pelo cravar constante de pás a marcá-lo com uma tenacidade e obstinação de quem veio para executar seu trabalho de forma resoluta e objetiva. Esse algo que passa não se diz diretamente, se pronuncia através dessas linhas que ao invés de escritas com terna frugalidade, são fincadas a marretadas na superfície onde ele as registra. O tempo é ácido, é férreo, impondo sua onipresença repleta de segundos a rasgar a eternidade com sua inexorabilidade compassada e isócrona. É algoz cronológico da existência, clamando tudo o que é seu, tudo que por ele passa sem nunca escapar-lo. Ele é o que sempre resta, pois é o que nunca foi.

segunda-feira, 16 de julho de 2012

ACALANTO


“Descansa a tua alma na minha e deixa tudo ser como é; torto, inacabado, como tudo que é humano tem de ser”. Disse ela, num espasmo existencial que se alongava até que alcançasse o seu outro-- ela quando sendo um tu-- o seu reverso. Alteridade embrionária a despertar o seu quê de ser pulsante, percuciente. Abrigava esta outra presença em sua alma como se esta fosse um ninho acolhedor em sua essência de pequenos fragmentos-- tecido com um zelo inflamado pelas torrentes sanguíneas ígneas de uma tenacidade e determinação de músculo cardíaco--, fragmentos colhidos um a um a formar aquela estrutura uterina, maternal de um acalanto que alberga toda a candência de um sentir que se sente quando não se é um só.

domingo, 15 de julho de 2012

Furacões



Por fora era a personificação da placidez, por dentro; mil revoluções por minuto. Era daquele tipo de torvelinho velado que fica rodopiando quietinho no seu canto com muito cuidado para que sua fúria compacta não se esbarre em nada, em nenhum cristal, ou levante algum poeira alheia. Apenas arrasta tudo que esteja na zona limítrofe de sua revolução delimitada, furacãozinho cercado, contido em seu territoriozinho de tempestade que se explode ao mesmo tempo que se doma.

Era assim que ela era, odiava por dentro, amava por dentro , dentro de seu limite de forma, de corpo que se move impulsionado pelo que poe a vida pra viver. Mas afinal o que é que poe a vida pra viver? O coração não é. Porque quem é que poe o coração pra bater, pra pulsar? Quem faz o olho ver, quem é que bota? Será que é cada um por si só que bota? Quem bota a perna pra andar? A menta pra pensar? E quem é que bota quem bota pra botar? Essas interrogações que giram na cabeça, são os redemoinhos que revolucionam dentro de sua cabeça no seu furor constante, avassalador e ao mesmo tempo contido, d vento contido em arcabouço de cranio, de corpo de pessoinha qualquer que fica retendo furacões dentro de si, que os privam de serem o que são; livres, cegos de fúria levando tudo o que vem pela frente enfim, furacões.

Ela era um gaiola de furacões, os detinha os continha no seu corpo gradeado de aço feito d todos os medos derretidos e fundidos que formavam suas barras rígidas, soldadas qu juntas criavam este corpo de jaula, calabouço de revoluções que aconteciam sem cessar que não davam trégua de pararem de ser, de existirem, de tentar arrebentar e romper tudo que as contém. De vez em quando la abria a boca e la d dentro aqueles redemoinhinhos viam aquele alçapão se abrir formando um luz la em cima que descia por aquela abertura que mais parecia a tampa que haviam colocado no poço o qual eles jaziam no fundo. Ao s apercebem dessa oportunidade, dessa centelha de liberdade que se abira acima deles, iniciavam uma marcha em disparada na direção desta luz para podem ser livres e sair mundo afora rodopiando por onde quiserem sem nada que os impeça de serem o que são. Estes instantes ocorriam no momento em que ela estava prestes a soltar um palavrão, uma verdade, um grito de fúria, de ódio, de raiva, de alegria, espanto mas que por algum motivo ela deixava de soltar e continha todo esse impulso fechando a boca e fazendo com que todo os redemoinhozinhos em disparada se chocassem uns aos outros em sua boca ate que fossem engolidos de volta e voltassem pro seu fundo de poço escuro e úmido. Era gaiola, jaula, calabouço. Isso dependia da natureza do vento, de sua força e do estrago que ele podia causar, dai se tirava o grau de contenção das revoluções internas que nela aconteciam.

Às vezes quando estava quieta , seus redemoinhos, tornado, furacões e até tufões( sim, ela também abrigava tufões) se debatiam com tanta força dentro dela no desejo de sair que do nada vinha aquela vontade de chorar sem saber o motivo mais ai então ela segurava o choro, as lágrimas que estriam prestes a brotar a inundavam por dentro fazendo encher o poço que abrigava os pobres redemoinhozinhos que tentavam volta e meia escapar sem sucesso. Tudo por dentro explodia, uivava de tanta verve querendo verter-se, mas tudo por fora era calmo, quase morto, monótono, embotado. Era de uma languidez rançosa, ressaibos de lesma que ficam no caminho traçado que fazem lembrar de tudo que poderia ter sido se a potencia por dentro fosse. Se soltasse. Mas também se se solta, se se sai, se se rompe oque dela haveria de ser? Ficaria oca, vazia despreenchida de todos esses ventos que lhe inflam, que lhe dão corpo, que a deixam de pé. Iria se tornar vazia, um balão murcho sem forma, sem mais serventia. Jaula vazia.

Talvez tivesse que ser assim mesmo, vai ver ela era um espécie de salvadora do mundo ao salvá-lo diariamente de um catástrofe por não deixar que essa fúria da natureza contida em si se espalhasse acabando com tudo que encontrasse pela frente devastando o planeta inteiro. Então neste ato diário de heroísmo devastava-se por dentro para que o mundo não fosse devastado.

No seu caminhar solitário pelas ruas a se esbarrar nas pessoas, passava despercebida, mal sabendo quem em nela se esbarrava que esbarrara-se na sua própria salvação, e cada um a carregar seu próprio apocalipse no bolso.

Enclave


                                                              Enclave



Aquele espanto inopinado de habitar a pele em que se habita e que sai como fragor dos poros, um brado exsudado do imo intransponível de se ser o que se é, quando a única camada inexorável é a da pele, essa inquietação que é própria de quem é enclave do mundo, esse estranhamento insular de ilha de carne e espírito que se poe no mundo direcionada exclusivamente por uma incerteza que faz parte da vertigem transfigurada em uma espécie de apanágio existencial que salta aos olhos desde o momento em que se nasce, sabe? Eu sei. Mas que caralho de nome tem isso?

Poeirazinha



A poeirazinha


Estava assentada, e então lhe puseram um nome, lhe deram endereço, família, profissão, marido, filhos, enfim; fizeram dela gente. Mas disso ela nada sabia, apenas deixava tudo tomar seu rumo como uma partícula ou saco plástico açoitados pelo vento que os conduz randomicamente na sua liberdade espacial de transito, pois o vento é livre; não se predetermina, ninguém o predetermina. Assim também com ela se ocorria, deixava-se levar, pela vida, por alguém, alguma coisa. Deixava-se. Deixava-se sempre, era sempre conduzida, carregada por uma maré não influenciada pela lua, pois esta era sua maré, conduzia-se por um não-sei-que que não podia chamar de vida, nem de vontade, desejo, anelo ou algo assim. Mas era conduzida. Criara seus filhos, cuidava do marido, da casa, da comida, do cachorro movida por um sopro sem nome que não era alma, não era espírito era mais um não-sei-que. Estava sempre pronta, sempre solícita, disposta, contida em rua retidão de se deixar, de se deixar lhe porem as coisas; nome, endereço, roupa, sapato, grampo no cabelo, batom, pênis enfim; nela se punham coisas pois deixava-se. Arranjaram-lhe uma vida, um destino, com número de registro e data de nascimento, pois a tinham ulteriormente a tudo isso posto pra nascer, fora posta pra nascer, era sempre posta, nunca pôs nada e mesmo quando punha foi porque fora posta a por. Deram-lhe aniversário, feriados nacionais, pátria. Lhe puseram numa pátria, no seu documento constava o nome de uma cidade, pois é, ela de fato tinha endereço no qual residia, mas morar já diz de outra coisa que para ela não fora posta, assim como pensar, pois tudo o que pensava lhe era posto na cabeça como todo o resto, como quando o seu marido a penetrava.
Ela era daquelas pessoas lançadas, não como pessoas que se lançam às coisas, mas pessoas lançadas. Estava sendo e não era, vivia sua vidinha de projétil arremessado, míssil teleguiado já é demais, afinal ela era só aquilozinho que se deixava por-se. Saco plastico flanante, é muito. Era poeirazinha daquelas que se acumulam no móvel de casa por falta de zelo na qual as crianças se divertem escrevendo seus nomes com os dedos. Seu destino parecia ser escrito assim, por brincadeira de pontas de dedos na poeirazinha que era. Ai quando não se quer a poeirazinha por perto, ou a se varre pra debaixo do tapete ou a se espanta com um espanador que a transporta e faz pousar em outra superfície que se configura em uma especie de molde ao qual ela se deixa assentar novamente e devotamente cumprindo seu papel de poeirazinha. Se quiser ser mais avassalador pode-se usar um aspirador, sugando-a por completo a lançando numa espécie de masmorra ou limbo (como queira) lá dentro do aspirador, lançada então neste hermetismo ela se contenta reclusa com sua condição de pó que é, de detrito indesejável e espera o compartimento se encher até que lhe esvaziem e a libertem numa lata de lixo, num lixão,num aterro. Se estiver com a sorte de passar um vento no momento do despojo ela pode pairar, livre sem destino, pois já não tem mais endereço, nome, marido, casa, filhos, cachorro, aniversário, batom na boca, sapato no pé, pênis na vagina, voltou a ser a poeirazinha que sempre fora e nunca soubera, tudo isso apenas fora-lhe prescrito enquanto estava assentada, descansando em superfície tomada como existência ditada por dedos a passar seu tempo escrevendo na poeirazinha, ai foi pega de surpresa sendo, vejam só! Tomando existência! Logo ela a poeirazinha.... É de se rir.

O CAOS


                                                                          Caos

Era feita de caos, daquele caos sagrado que funde tudo que é visceral e mundano, que perpassa toda a existência a procura de uma ordem que seja a da imperfeição organizada, a da sujeira límpida por ser honesta em sua podridão. E assim tudo era sagrado, do esgoto à hóstia. Dessa forma, ela também seria sagrada. O estampido que das batidas do seu coração saia de forma fragorosa retumbava a sua sacralidade de não saber se encontrar, de estar perdida dentro de si mesma, de não saber em qual recôndito, qual compartimento dentro de si se perdeu.

Estava esgotada, incerta de si mesma, perdida em um palavrório inesgotável que usava para traduzir sua indefinição em palavras. Absorta numa espécie de bruma, de delírio vertiginal que fazia que todo o preenchimento fosse vago, vazio em significado, sem importância.

Era o caos, e o caos era a regra, a ordem da incerteza rutilante que crispava a cavidade do que ela chamava de existência. Ela amava o caos. O caos a fazia ser, graças a ele ela era, se reconhecia como presença que o habita e reconhece. E por amar o caos amava a vida, tudo era sublimação, tudo era ardência pulsante que dizia do eterno.,do estertor que brota daquilo que ferve por dentro e que quer gritar de tão simples que é mas que se verte em algaravia quando dele se tentam apreender algo como agora acontece. É um ninho de palavras inertes, inócuas, rasas quando de trata de tocar o ardor do caos que lateja por dentro.

Ela era dessa espécie de gente, pedacinho de caos ambulante que vaga pela vida a procura de um abrigo, um espaçozinho pra se acomodar e se autoincomodar, de ser caos quietinha no seu canto, em paz. Ser caos e paz atados por laços de veias que são canais da explosão que nunca cessa em todos os corpos desde o início dos tempos mesmo depois de inertes, posto que estes no final sempre se transmutam para atuarem de maneiras diferentes das anteriores. Se sentia viva por ser caos, mesmo que não a amassem se sentia amada, pois era o amor do caos.

O caos é a ordem em si, sem ele não há troca não há gênese, fusão, ignição, atrito, fluxo, impulso, força, potência. Não há grito, não há voz, não há cópula, não há carne, nada nasce, nada cresce, pois dele tudo sai, tudo segue, tudo é. E é sagrado porque é. E Ela é.

segunda-feira, 9 de julho de 2012

O PAPEL



O PAPEL


Deparava-se com o papel. Branco, vasto, imenso em sua pureza de superfície lisa e vazia que se dá de bom grado e livremente para que nele se lancem tudo o que for tinta, palavra, palavra que vira tinta como que urdida no papel, atada. A mescla do escuro no claro. O escuro que vira buraco na planície branca da vastidão de uma terra de ninguém que se deixa colonizar.
Colonizado pela palavra que nele se imprime, o papel se torna humilde servo de tudo aquilo que pode ser circunscrito nos domínios do alfabeto. O papel é passivo, acolhe de bom grado a palavra que nele vai habitando gradualmente ou de forma brusca sob a força de uma máquina de imprensa.

O papel sofre calado, resignado em sua natureza de território invadido por palavras que dele tomam posse sem prévia anuência, às palavra pouco importa o que o papel possa sentir; aliás elas nem se dão conta de que este sente, aliás nem a gente se dá conta de que este sente.

Sempre fora renegado a segundo plano ao papel de simples suporte, sustentáculo de palavras, mídia. Sempre o que fica atrás das palavras a segundo plano, coadjuvante irreconhecido, renegado a sua imperceptibilidade de folha que se folheia por conter as suas colonizadoras, suas soberanas, tiranas desse pobre incauto. As palavras
O papel não reivindica, não grita, não diz, não expressa posto que não é palavra: é o mero receptáculo destas.

Da tinta que o mancha, invade e macula-o em sua pureza de ser que é e não se diz, mas que nele as palavras se dizem, “se” contam, “se” escrevem, “se” choram, “se” sorriem, “se” berram, “se” vomitam, se nada(m). Enfim, se tornam palavras.

Pois há aquelas que se nadam no papel, que reconhecem a potencia de seu caráter de vazio que diz tudo enquanto nada diz por conter a possibilidade de tudo que se pode dizer, mas que diz muito mais porque ele não se diz, pois ele diz do que não pode ser dito enquanto nada diz, o que é muito maior, mais profundo e mais vasto que tudo aquilo que se pode dizer, pois dizer é sempre um redução, é filtro, é metáfora, roupagem, é roupa que se veste no intangível , no inenarrável, no infinito para que deles se possa ter a ideia mais reduzida possível, que é a única possível.
Dizer sempre é um redução de tudo aquilo que é. E quem nada no papel compreendeu sua eloquência muda que de tudo diz porque nada diz, apenas é. E sendo dá-se a entender a quem queira, àqueles que nadam no papel, que ao o encararem o miram fixo, perplexos, anestesiados, hipnotizados pelo seu poder oceânico que tem a foça de atração de uma onda de ressaca pela qual são tragados e nadam, nadam em direção a um zênite imaginário por traz do qual tudo é e pode ser mais do que qualquer palavra alguma jamais poderá dizer.



Josué Murilo


Salvador, 09 de julho de 2012