Por
fora era a personificação da placidez, por dentro; mil revoluções
por minuto. Era daquele tipo de torvelinho velado que fica
rodopiando quietinho no seu canto com muito cuidado para que sua
fúria compacta não se esbarre em nada, em nenhum cristal, ou
levante algum poeira alheia. Apenas arrasta tudo que esteja na zona
limítrofe de sua revolução delimitada, furacãozinho cercado,
contido em seu territoriozinho de tempestade que se explode ao mesmo
tempo que se doma.
Era
assim que ela era, odiava por dentro, amava por dentro , dentro de
seu limite de forma, de corpo que se move impulsionado pelo que poe a
vida pra viver. Mas afinal o que é que poe a vida pra viver? O
coração não é. Porque quem é que poe o coração pra bater, pra
pulsar? Quem faz o olho ver, quem é que bota? Será que é cada um
por si só que bota? Quem bota a perna pra andar? A menta pra pensar?
E quem é que bota quem bota pra botar? Essas interrogações que
giram na cabeça, são os redemoinhos que revolucionam dentro de sua
cabeça no seu furor constante, avassalador e ao mesmo tempo
contido, d vento contido em arcabouço de cranio, de corpo de
pessoinha qualquer que fica retendo furacões dentro de si, que os
privam de serem o que são; livres, cegos de fúria levando tudo o
que vem pela frente enfim, furacões.
Ela
era um gaiola de furacões, os detinha os continha no seu corpo
gradeado de aço feito d todos os medos derretidos e fundidos que
formavam suas barras rígidas, soldadas qu juntas criavam este corpo
de jaula, calabouço de revoluções que aconteciam sem cessar que
não davam trégua de pararem de ser, de existirem, de tentar
arrebentar e romper tudo que as contém. De vez em quando la abria a
boca e la d dentro aqueles redemoinhinhos viam aquele alçapão se
abrir formando um luz la em cima que descia por aquela abertura que
mais parecia a tampa que haviam colocado no poço o qual eles jaziam
no fundo. Ao s apercebem dessa oportunidade, dessa centelha de
liberdade que se abira acima deles, iniciavam uma marcha em disparada
na direção desta luz para podem ser livres e sair mundo afora
rodopiando por onde quiserem sem nada que os impeça de serem o que
são. Estes instantes ocorriam no momento em que ela estava prestes a
soltar um palavrão, uma verdade, um grito de fúria, de ódio, de
raiva, de alegria, espanto mas que por algum motivo ela deixava de
soltar e continha todo esse impulso fechando a boca e fazendo com que
todo os redemoinhozinhos em disparada se chocassem uns aos outros em
sua boca ate que fossem engolidos de volta e voltassem pro seu fundo
de poço escuro e úmido. Era gaiola, jaula, calabouço. Isso
dependia da natureza do vento, de sua força e do estrago que ele
podia causar, dai se tirava o grau de contenção das revoluções
internas que nela aconteciam.
Às
vezes quando estava quieta , seus redemoinhos, tornado, furacões e
até tufões( sim, ela também abrigava tufões) se debatiam com
tanta força dentro dela no desejo de sair que do nada vinha aquela
vontade de chorar sem saber o motivo mais ai então ela segurava o
choro, as lágrimas que estriam prestes a brotar a inundavam por
dentro fazendo encher o poço que abrigava os pobres redemoinhozinhos
que tentavam volta e meia escapar sem sucesso. Tudo por dentro
explodia, uivava de tanta verve querendo verter-se, mas tudo por fora
era calmo, quase morto, monótono, embotado. Era de uma languidez
rançosa, ressaibos de lesma que ficam no caminho traçado que fazem
lembrar de tudo que poderia ter sido se a potencia por dentro fosse.
Se soltasse. Mas também se se solta, se se sai, se se rompe oque
dela haveria de ser? Ficaria oca, vazia despreenchida de todos esses
ventos que lhe inflam, que lhe dão corpo, que a deixam de pé. Iria
se tornar vazia, um balão murcho sem forma, sem mais serventia.
Jaula vazia.
Talvez
tivesse que ser assim mesmo, vai ver ela era um espécie de salvadora
do mundo ao salvá-lo diariamente de um catástrofe por não deixar
que essa fúria da natureza contida em si se espalhasse acabando com
tudo que encontrasse pela frente devastando o planeta inteiro. Então
neste ato diário de heroísmo devastava-se por dentro para que o
mundo não fosse devastado.
No seu
caminhar solitário pelas ruas a se esbarrar nas pessoas, passava
despercebida, mal sabendo quem em nela se esbarrava que esbarrara-se na
sua própria salvação, e cada um a carregar seu próprio apocalipse no bolso.
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