Trabalhava em uma repartição, todos os dias sentava-se a postos a
redigir os mais variados documentos; relatórios, protocolos,
memorandos, ofícios, enfim, aquela parafernália que compõe toda
confluência burocrática característica desses ambientes. Um único
detalhe o destacava do restante fazendo que fosse visto com um
certo estranhamento por parte dos seus companheiros de profissão: ao
invés do computador ele se utilizava de uma máquina de escrever.
O
barulho intenso e constante provocado pelo bater das teclas no papel
repercutia por todo o ambiente causando irritação em todos os
presentes que sempre lhe indagavam o porquê da insistência no uso
de instrumento tão arcaico, barulhento e muito pouco pratico aos quais ele
redarguia “ é mais proveitoso”.
O
curioso é que a cada erro cometido, ao invés fazer alguma emenda,
voltar a datilografar em outra folha, ou encobrir o erro com líquido
corretivo; ele arrancava a pequena letrinha inconveniente que
aparecera no lugar errado e colocava em um pequeno caneco que ficava
a seu lado. Assim fazia toda vez que algo era digitado de maneira
indevida; erros de ortografia, um plural indevido, uma crase mal
colocada, todos iam parar no caneco o qual no fim do dia terminava
cheio.
Ao
final do dia repetia um curioso ritual que deixava todos curiosos a
olharem meso que de soslaio para sua execução: pegava a caneca
repleta dos pedacinhos de papel produto de seus erros, colocava um
pouco de água, misturava um pouco e tomava tudo de uma vez só e
após aquele lauto hausto, prorrompia proverbialmente:
“ Que erros deliciosos!.” E ia-se.
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