segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

NASCIMENTO E MORTE DE MITÁGORAS

   Há um grão de areia, entre milhares de grão de areia, esse grão de areia sacode, se agita, incha e eclode.
Dele surge um homem, ele está nu. Ele saiu de dentro deste grão; mas não sabe o que signfica sair, nem o que é um grão e nem por que dele saiu.

Ele se levanta não fazendo a menor ideia do porque se levanta e o que seja o ato de levantar-se. Ele simplesmente se levanta.

Ele olha ao redor, sem saber que olha e muito menos o que é o ato de olhar e mesmo até que tem um olho que olha.

Ele vê coisas, pessoas, árvores, pedras, pássaros mas não sabe que aquilo são coisas, pessoas, árvores, pedras e pássaros. Digo mais, ele não sabe nem que ele é um ser e que estas coisas que ele está a ver são outros seres outras cosia que não ele. A alteridade pra ele não existe. Nem que ele existe ele ainda sabe.

Ele não sabe nem que não sabe, que existe nem o que seja existir e tampouco o que seja uma existência. 

Ele simplesmente está, está ali parado, sem saber o que é estar e o que seja estar parado.

Ele caminha, sem a mínima ideia do que seja caminhar, de que ele caminha e de que seja um ser que caminha.

As pessoas ao se depararem com aquele homem, que eclodiu de um grão de areia__ alheio a tudo inclusive ao seja ser alheio a algo__ se assustam se assustam com alguém que não sabe que é alguém, que no sabe o que é ser alguém e o que é ser alguém que assusta e o que seja assustar.

Ele é uma espécie de "nada", nada que tomou forma humana, que se personificou inconscientemente porque consciência alguma tinha posto que era um nada inconscientemente personificado em sua ignorância de ser nada e posto que era nada e o nada ignora o nada que é.

As pessoa se apavoram ao verem este nada personificado com o véu do humano, com esse nada que se fez humano e que delas se aproxima.

Elas gritam:

__Para trás!!
__Para Trás!!

Ele as ouve. Ouvir? Definitivamente não! As ondas sonoras captadas pelo seu suposto aparelho auditivo que obviamente ele não sabia possuir, não passavam de sons que por este aparelho eram convertidos em algo que ele não sabia que eram sons e que os estava ouvir. Ou Seja não sabia que tinha um ouvido, que ouvia e que estava ouvindo algo que se chamavam sons que produziam palavras as quais totalmente desconheceria.

Palavras que significam algo. Significar? Algo? "Algo" não existia para ele, não tinha noção de que algo existia  de que ele existia para perceber que algo existia.
Ele não sabe que está em um lugar, não sabe que ele é "um" e que o ambiente ao seu redor é "outro" outra cosia que não ele. Sem consciência de si próprio; ele está e é sem estar e nem ser.

E novamente os outros seres que sabem que são algo gritam:

__Para trás!!

Ele continua a caminhar, sem saber que caminha, nem o que seja caminhar, nem que alguém lhe grita; pois não sabe o que é alguém e o que seja gritar.

Outro ser grita novamente:
__Vou atirar!
__Vou atirar!

E ele continua, sem saber o que é continuar, sem saber que alguém grita que vai atirar. Pois não sabe o que é alguém, o que é gritar e muito menos o que venha a ser atirar.

O ALGUÉM ATIRA.

O tiro atinge sua barriga, a qual ele não sabe possuir e o que seja uma barriga. Ele sente o impacto, mas sem saber que sente e o que seja sentir. Olha para o ferimento causado pela bala, sem saber que aquilo é um ferimento que foi causado por uma bala e o que seja uma bala e sem saber que olha para o ferimento pois não sabe que olha nem o que é o ato de olhar, apesar de o fazer. Escorre sangue, sangue que ele não sabe que possui, nem o que vem a ser sangue o que venha a ser alguém que tem sangue e que sangra, que o sangue é vermelho, não sabe que vermelho é cor_ vocabulário em sua mente auto ignorada não existe__ existir é palavra que para ele não existe pois não sabe que o existir existe e que ele existe no existir do que vem a ser uma existência.

 Ele toca o sangue com seus dedos, que não sabe que são dedos, nem que tocam, nem o que seja tocar. Seus dedos ficam melados com seu sangue o qual ele não sabe que é seu , sem saber que tem dedos que tocam seu sangue por não saber que é alguém que sangra e que tem dedos pra tocar este sangue, mas mesmo assim ele o toca sem saber que toca, sem saber que é alguém que toca o sangue que tem. Que seus dedos são um parte de seu corpo o qual não tem consciência de possuí-lo pois não se distingue das demais coisas e seres ao seu redor.

 Não sabe que é alguém que está em algum lugar com um tiro na barriga que sangra. Mas é e está.

Ele sente dor, sente mas não sabe o que é dor e nem que é ele que sente a dor pois não sabe que existe pra que possa sentir dor e que a sente. Mas ele a sente, e ela dói, a dor que ele que não sabe que é dor e que dói e que ele não sabe  que dói, dói.

E ele grita:

__Ahhhhhhhhhh!!!!

De dor.

Mas não sabe que gritou, nem o que é gritar, nem que foi de dor por não saber o que seja dor e que a sentia.

Ele então cai no chão; sem saber que caia, nem o que seria cair nem o que seja um chão onde se cai nem o que seja alguém que cai no chão. Mas caiu.

O ar começa a lhe faltar, muito embora não saiba o que seja faltar o que seja ar, que ele seja alguém que precise de ar para respirar, que ele é um ser que respira e o que seja respirar para que o ar o falte quando não consegue realizar o ato o qual  ignora  ser capaz de fazer que é o de respirar.

E então ele arfa, estertora. Totalmente alheio a seu ser, seu corpo, do alguém que não é ninguém que ele é que arfa e estertora sem saber que isso o faz.

 Seus olhos se arregalam, ficam fixos, sem vida. Olhos não sabidos, arregalados por quem nem sabia que tinha olhos para arregalar e sem vida, uma vida que nem  sabia que era vida.

Seu coração pára. Coração desconhecido por quem o fazia bater e muito menos saberia que este tinha parado e o que seria parar e o adviria desta parada. A morte.

Morreu. Sem saber que morreu, que existiu para depois morrer, que morreu porque estava vivo mas não sabia que vivo estava e que quem está vivo morre e que ele estava vivo e por isso morreu.

Foi sem saber que era, mesmo sendo.
Existiu sem saber que existia, mesmo existindo.
Estava sem saber que  estava, mesmo estando.
Sentiu dor sem saber que  sentia, mesmo sentindo.
Gritou sem saber que  gritava, mesmo gritando.
Morreu sem saber que morria, mesmo morrendo.














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