O
sentimento nem sempre vem puro, entende-se por isso que tudo deve
possuir um estado natural, original e genuíno de como quando as
coisas começam a ser e ainda não se misturaram a outras coisas que
estão a começar ou já haviam começado a ser. E essa pureza,
renitentemente clamada numa súplica ad eternum pela
humanidade; nada mais é do que um percalço que muito mais do que um
óbice regular da vida, torna se ponta aguda de perfuração
lancinante , toque fino de candência de dor que por se transmitir
por canalículo de espessura extremamente mínima se condensa,
concentrando em si toda a dor que uma dor pode doer, essa
concentração revela sua pureza, de dor pura que é por não
misturar-se a mais nada e ser composta daquilo que originariamente é,
apenas dor. Não é cansaço, não é derrota, não é espera eterna,
não é desterro, não é desilusão, não é amor barato não
correspondido, não é faca, não é ferro, não é fogo queimando,
não é mentira quando se acreditava ser verdade, não é
indiferença, não é tristeza, não é desalento, não é ferida,
não é decepção, não é a morte, não é doença, não é
ferimento de bala, não é uma cacetada na cabeça, não é corte,
não é atropelamento, não é pedrada, não é dente podre, não é
traição, não é surra de marido, não é a vida dizendo não, não
é. E a mais pura dor, cristalina em sua pureza de coisa pura passada
em crivo a separar nela aquilo que de sua essência não fazia parte,
aquilo incapaz de acolher sua espessura de dor, em si, límpida,
cristalina sem motivos, substancia em si, fino extrato extra virgem
da mais pura dor.
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