Nascera
no futuro, no porvir da massa de segundos, horas e minutos que cortam
cronologicamente o que se chama de tempo, nascera no tempo que ainda
não era; nos segundos ainda não cortados pela lança afiada dos
relógios e encarcerados na prisão hebdomadária dos dias da
semana, da sequencia dos meses e do suceder dos anos. Já era, mas
ainda não sendo. Era o porvir do seu ainda não existir que somente
existia na sucessão do que seria se fosse, sendo que já era, mas
somente na sucessão do que ainda não era.
Inventava-se então como consequência de um passado que nunca houve,
era o produto concreto do que nunca foi mas que ao mesmo tempo era no
que seria o resultado de sua sequência posta sob a forja do tempo.
Amputara o tempo, cortou fora o que dele não lhe interessava.
Subtraiu etapas. Destas só lhe interessou o futuro e decidiu que seu
nascimento somente se daria neste. Resolveu não habitar o presente e
o passado retalhou e engoliu paulatinamente, mas este tinha gosto de
ar, de sopro vazio posto que nele nada havia sido inscrito.
Escolheu ser o que é do que nunca foi, o sendo do que nunca houvera
e o que poderia ter sido do que nunca ocorreu.
E assim
revolucionava, pois as revoluções amam aqueles que ainda não
existem, já existindo.
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