terça-feira, 7 de agosto de 2012

DISCRONIA


Nascera no futuro, no porvir da massa de segundos, horas e minutos que cortam cronologicamente o que se chama de tempo, nascera no tempo que ainda não era; nos segundos ainda não cortados pela lança afiada dos relógios e encarcerados na prisão hebdomadária dos dias da semana, da sequencia dos meses e do suceder dos anos. Já era, mas ainda não sendo. Era o porvir do seu ainda não existir que somente existia na sucessão do que seria se fosse, sendo que já era, mas somente na sucessão do que ainda não era.
Inventava-se então como consequência de um passado que nunca houve, era o produto concreto do que nunca foi mas que ao mesmo tempo era no que seria o resultado de sua sequência posta sob a forja do tempo.
Amputara o tempo, cortou fora o que dele não lhe interessava. Subtraiu etapas. Destas só lhe interessou o futuro e decidiu que seu nascimento somente se daria neste. Resolveu não habitar o presente e o passado retalhou e engoliu paulatinamente, mas este tinha gosto de ar, de sopro vazio posto que nele nada havia sido inscrito.

Escolheu ser o que é do que nunca foi, o sendo do que nunca houvera e o que poderia ter sido do que nunca ocorreu.

E assim revolucionava, pois as revoluções amam aqueles que ainda não existem, já existindo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário